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NEOLIBERALISMO, A ALMA NEGRA DA GLOBALIZAÇÃO

 

 

 

 

Nesta segunda década do século 21, a nova pirâmide social planetária reflecte o abismal fosso existente entre as massas confinadas na base e as elites que ocupam o vértice, entre o buliçoso formigueiro humano que trabalha e produz as riquezas mundiais e a tentacular besta gananciosa que se alimenta da carne e do espírito da humanidade.

O neoliberalismo criou nas sociedades um “estado selvagem permanente”, o equivalente de uma selva, na qual impera a lei do mais forte. A globalização mercantil e financeira é a expressão económica dessa selecção darwiniana e representa o fim das esperanças suscitadas pelos avanços da ciência e pela produtividade mundial, cujos ganhos, se tivessem sido partilhados com equidade, poderiam ter gerado, nas últimas décadas, em todo o planeta, uma prosperidade sem precedentes.

Esta ideologia não é um simples prolongamento do capitalismo industrial que se afirmou e reinou entre o início da Revolução Industrial e o início da Revolução Tecnológica. É, na realidade, um astuto sistema ideológico de exploração e de opressão, conduzido pelos agentes fundamentalistas do mercado livre.

Ele atrai e aglutina numa massa informe, anónima, os interesses de banqueiros, accionistas do capital financeiro, investidores, especuladores, rufias da evasão fiscal e da corrupção, chefias e hostes dos partidos parasitas, altos funcionários governamentais e oligarcas do crime.

Face a esta confraria da voracidade, apátrida, obcecada pela ganância e o poder, que peso pode representar na balança do humano, os milhares de milhões de seres humanos que trabalham, produzem a riqueza global?

O neoliberalismo tem um discurso inumano. À lógica social, fundamentada em regras da equidade e de justiça, ele opõe a lógica economicista: concorrência e eficácia.

Sem olhar a meios, esta ideologia totalitária prossegue a sua estratégia ideológica para submeter os estados, privatizá-los, controlar e aprisionar nas teias do mercado, todos os seus sectores produtivos, sem excepção (industrias, matérias primas, bens alimentares, recursos naturais, bens e serviços públicos).

Os nossos estados tornaram-se meros empórios comerciais, deixaram de ser entidades nacionais, políticas, históricas no instante em que os nossos governantes apagaram os últimos vestígios da sua especificidade: soberania, liberdade, solidariedade.

Este mundo de desigualdades extremas e de marginalização para milhares de milhões de seres humanos não é a consequência de uma paragem súbita na produção mundial de riquezas - o PIB mundial não parou de subir. O que a actualidade nos revela é assustador: um governo sombra, representativo de um sistema político-económico, o Poder Privado Global, prepara-se para submeter todos os povos da Terra a uma nova ordem. Esta ordem procurará impor às populações mundiais um colectivismo inumano, com o objectivo de destruir no homem a sua individualidade, reduzindo-o a um número, a uma não-pessoa.

Assentando a sua doutrina numa frase, aparentemente, inócua, “libertação total das forças do mercado”, o neoliberalismo não suscita medo ou desconfiança e, no entanto, nenhuma outra ideologia possuiu uma tão grande capacidade de domínio e de exploração das sociedades humanas.

As regras neoliberais são a nova cartilha para os povos do mundo. Nessa cartilha não há uma só página que fale dos direitos da pessoa humana, de generosidade e compaixão, de solidariedade, de partilha, de harmonia, entre os povos, do valor da cultura, da tolerância, do respeito pelo outro, da defesa da biodiversidade. Nas suas páginas não constam dados nem estatísticas sobre a fome que mata milhões, sobre os mil milhões de sobreviventes da miséria nos bairros de lata de todas as megalópoles, sobre os mais de mil milhões e meio de pessoas que se encontram, definitivamente, marginalizadas pelo desemprego, em situações de vulnerabilidade extrema.

O neoliberalismo avança como uma vaga monstruosa, nada parece poder travá-lo.

No fim desta década, ele poderá dominar o mundo. Terá, entretanto, feito funcionar a terrível máquina do desemprego e despejado, como lixo, milhões e milhões de seres humanos em subúrbios favelados. O seu programa, consolidado e institucionalizado em todo o planeta, aniquilará, nos cidadãos, todos os sistemas e estruturas mentais de defesa e de revolta, apagará, na memória do humano, os símbolos da liberdade e da dignidade.

 

Analisando o neoliberalismo, no seu livro Geopolítica do Caos, I. Remonet escreve: "A repetição constante, em todos os médias, desse catecismo por quase todos os políticos, tanto de direita como de esquerda, confere-lhe tal poder de intimação que ela impede qualquer tentativa de reflexão livre e torna muito difícil a resistência contra esse novo obscurantismo. É deveras chocante constatar a que ponto, um período de agitação, de crises económicas e de perigos de todo o género como aquele em que vivemos, possa coincidir com um consenso ideológico esmagador, imposto pelos médias, pelas sondagens e pela publicidade graças à manipulação dos signos e dos símbolos e a um novo controlo dos espíritos.”

 

Em 1988, o presidente François Mitterrand, na sua «Carta aos franceses» disse o que pensava da nova organização económica mundial: “Consideremos a economia mundial: só nos mostra campos de batalha onde as empresas se entregam a uma guerra sem tréguas. Não se vê prisioneiros, quem cai, morre (…) Esta guerra é total e espalha-se por todo o lado.”

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